PERDIDOS EM TOKYO
“Lost in Translation” (título brilhante traduzido não sem uma certa ironia para “Encontros & Desencontros”) filme vencedor do Oscar de melhor roteiro original lá no ido ano de 2003 é considerado até o presente momento de publicação nesse blog a Magnum Opus de Sofia Coppola.
O filme trata de temas como solidão, alienação, choque cultural e geracional. Conta a história de dois estadunidenses: Bob Harris, um ator decadente que vai para o Japão gravar um comercial de whisky (dá-lhes Bill Murray!) e Charlotte uma jovem recém formada e negligenciada pelo namorado workaholic (sabe-se lá como ele conseguia ignorar a onírica Scarlet Johanson); e a amizade/ paixão que se estabelece entre essas duas criaturas enquanto eles na condição de patéticos peixe- fora- d’água tentam sobreviver as suas jornadas melancólicas na surreal Tokyo pós-moderna que serve de pano de fundo para a narrativa.
As personagens do filme transcorrem seus dias perdidos em um ambiente cultural diverso, exilados do mundo em um hotel onde transcorre boa parte dos eventos da história e a total ausência de legendas por parte do elenco japonês nos leva a experimentar a mesma sensação de desorientação pela qual passam os personagens. O filme está cheio de cenas memoráveis sobre as quais não vale a pena comentar estragando a surpresa de quem ainda não o viu.
Os filmes de Sofia celebrados por todos pela retratação do universo feminino aprisionado são também uma excelente ponte para se pensar o papel de nós homens, o machismo cansado e o eterno abismo na compreensão da mulher. Copola poderia ser considerada uma modelo de feminista que não recorre a sexismos, evita lugares comuns, não demoniza o sexo oposto e não cai em generalizações grotescas.
Li uma crítica dizendo que apesar da ênfase na temática da comunicação, Sofia errou ao retratar o Japão Moderno de forma caricata, preconceituosa, e mesmo “racista”. Não concordo já que o Japão serve em primeiro lugar de ambientação exótica ao ocidental e de um pretexto narrativo necessário pois o filme jamais impactaria o seu público alvo (nós ocidentais) com o uso de signos conhecidos com os quais estamos acostumados.
Na medida que para o espectador que não é ingênuo o filme assume essa sua visão “de fora” e tenta justamente retratar não o país em si, mas a visão das personagens outsiders o contraste dos americanos deprimidos com o fetichismo ocidental presente na sociedade nipônica que mesmo muitos japoneses reconhecem e criticam.
Apesar dos ares de “comédia romântica” Lost in Translation não agradará os espectadores médios ou casuais. Isso por que o filme tem uma narrativa lenta e com pouca ação, insiste em uma visão quase turística e obsessiva do panorama Japão, e pelo seu final genial, mas cruelmente muito, muito, muito frustrante.
Daqueles finais abertos que se beneficiam de fruição, reflexão e sensibilidade na mesma linha de “Onde Os Fracos não tem Vez” (2007), mas que consegue ser ao mesmos tempo um daqueles emocionantes e inesquecíveis. Lost in Translation pode ser uma experiência mágica se for assistido com uma mente aberta e por uma mente descansada (ou regada a cafeína.)
Além de Encontros & Desencontros a diretora Sofia Coppola é conhecida pelo também excelente “As Virgens Suicidas”(1999) adaptado do romance homônimo e o mais recente Maria Antonieta (2006) que desagradou muitos críticos de plantão por sua estética pop e anacrônica.
Menos decorosamente ela é conhecida por ser a filha de um monstro sagrado como Francis Ford Coppola, tendo participado
Pessoalmente devo confessar que embora reconheça o brilhantismo técnico do paizão, os filmes do Francis nunca me agradaram muito. Gosto mesmo apenas do O Poderoso Chefão original , algumas cenas antológicas da Parte 2, e me desculpem por abominar o na minha opinião chatissímo e datadíssimo Apocalipse Now. Não sou um fã ardoroso de Dom Coppola.
Já por sua filha eu me apaixonei.
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