
FANTAPOLÍTICA VS. REALPOLITIK
Venho percebendo o quanto hoje em livros didáticos e em campanhas de ONGs tem se falado sobre cidadania ou a participação do povo em política.
Acredito que tudo isso seja herança das décadas 1960 e 1970 quando a política desceu às praças e ruas na forma de protestos de bandeiras variadas rompendo o clima de repressão cinquentista inaugurado pela Guerra Fria. Protestos contra a guerra, o capitalismo e as ditaduras no Ocidente, e contra o Socialismo e a ditadura de estado no Oriente.
Os movimentos de 70 tiveram trunfos políticos limitados. Os manifestantes contra a Guerra do Vietnã com certeza bamberam a popularidade na opinião pública a respeito do presidente Ronald Reagan nos E.U.A e o Maio de 68 ajudou a encurtar o governo De Gaulle na França, mas as guerrilhas e movimentos comunistas no ocidente e o socialismo "de face humana" alardeado pela Primavera de Praga na Tchecoslováquia acabaram como símbolos das diversas utopias políticas adolescentes não realizadas a longo prazo.
No entanto embora de êxito político dúbio ou limitado esses movimentos foram vitoriosos culturalmente. Influências ainda sensíveis existem na maneira contemporânea de se vestir, pensar e no mundo das artes . Mesmo na política um dos legados mais vísiveis atualmente dessas décadas seja talvez todo o hype em torno do "direito das minorias" (minorias?) que inauguraram ( movimentos pelos direitos dos negros, mulheres, homosexuais, portadores de deficiências, e incluídos pelos ecologistas, os animais)
Esses movimentos trouxeram a política para longe das suas torres de marfim para o mundo do cotidiano e dos jovens, mostrando que dentro de governos republicanos ou democráticos mesmo o cidadão comum poderia ter sua participação, aliás tinha como dever a participação política. Mesmo delírios esquerdistas se pautavam nesse anseio por essa liberdade de ação.
No entanto quase quarenta anos depois a desilusão com a classe política tem nos mostrado no mundo ao contrário cidadãos cada vez mais desinteressados, desinformados e carregados de preconceitos a respeito do assunto política.
Creio que isso acontece por que hoje a tal política "cidadã" continua seguindo fórmulas esgotadas e teorias políticas anacrônicas. Idealismos que pregam em vão como o "mundo ideal" deveria ser. Nesse sentido tanto o anarquista que acredita na paz mundial ou advogados de práticas de redução de dano ambiental ou marxistas gramscianos estão muito mais próximos daquela tradição fantapolítica inaugurada por Platão em sua Repúlica e continuada por Thomas Moore em A Utopia, do que os arremedos de filosofias que originalmente os inspiraram.
Se conclama o cidadão a agir, mas cegamente sem lhe dar os aparatos conceituais necessários para que entenda os funcionamentos reais da política dentro de seu país, ou medidas pálpáveis de como aquelas reivendicações podem realmente ser conquistadas. Faltou na década zero um movimento cultural que conseguisse conciliar o "fazer sua parte" com a Realpolitik do dia a dia.
Afinal de contas quantas pessoas hoje entendem verdadeiramente de política? Sabem hoje como funciona um partido? Quem são os políticos que elegeram? Como funcionam as leis eleitorais? O que são os sistemas de alianças e como eles influenciam os governos e oposições? Quantos jovens fora de famílias oligárquicas sonham com a carreira política ou em participar dessa mesmo que seja a nível municipal? Quais são as ONGs que possuem um nível de organização o suficiente para coordenar protestos sérios ou que saibam aproveitar criativamente dos espaços disponíveis para a comunicação? (Eu confesso-me um analfabeto político)
Mas pensar nesse tipo de coisas causa desconforto ao cidadão médio. É melhor exigir a plenos pulmões soluções radicais "fora do sistema" ou mágicas, instantanêas trazidas por algum tipo de divindade ou pensamento positivo. Ficar simplesmente bestializado perante os crimes ou a incompetência dos governantes, ou fazer protestos faraônicos só por fazer. A Realpolitik não é tão fascinante, tão consolatória, tão "cool" quanto a fantapolítica.
Se uma década vindoura tal movimento cultural conciliatório entre cidadania e pragmatismo político vier a exisitir (sou fantapoliticamente falando um pessimista histórico) só se pode esperar que para que ele realmente tenha êxito seja endogêno e extraescolar, visto que a alta carga ideológica aliada a um cenário de analfabetismo funcional presente na educação brasileira e a alegada eficiente educação dos países de primeiro mundo tem ambas até o presente momento falhado em nos agraciar com os pranteados "cidadãos conscientes".
Acredito que tudo isso seja herança das décadas 1960 e 1970 quando a política desceu às praças e ruas na forma de protestos de bandeiras variadas rompendo o clima de repressão cinquentista inaugurado pela Guerra Fria. Protestos contra a guerra, o capitalismo e as ditaduras no Ocidente, e contra o Socialismo e a ditadura de estado no Oriente.
Os movimentos de 70 tiveram trunfos políticos limitados. Os manifestantes contra a Guerra do Vietnã com certeza bamberam a popularidade na opinião pública a respeito do presidente Ronald Reagan nos E.U.A e o Maio de 68 ajudou a encurtar o governo De Gaulle na França, mas as guerrilhas e movimentos comunistas no ocidente e o socialismo "de face humana" alardeado pela Primavera de Praga na Tchecoslováquia acabaram como símbolos das diversas utopias políticas adolescentes não realizadas a longo prazo.
No entanto embora de êxito político dúbio ou limitado esses movimentos foram vitoriosos culturalmente. Influências ainda sensíveis existem na maneira contemporânea de se vestir, pensar e no mundo das artes . Mesmo na política um dos legados mais vísiveis atualmente dessas décadas seja talvez todo o hype em torno do "direito das minorias" (minorias?) que inauguraram ( movimentos pelos direitos dos negros, mulheres, homosexuais, portadores de deficiências, e incluídos pelos ecologistas, os animais)
Esses movimentos trouxeram a política para longe das suas torres de marfim para o mundo do cotidiano e dos jovens, mostrando que dentro de governos republicanos ou democráticos mesmo o cidadão comum poderia ter sua participação, aliás tinha como dever a participação política. Mesmo delírios esquerdistas se pautavam nesse anseio por essa liberdade de ação.
No entanto quase quarenta anos depois a desilusão com a classe política tem nos mostrado no mundo ao contrário cidadãos cada vez mais desinteressados, desinformados e carregados de preconceitos a respeito do assunto política.
Creio que isso acontece por que hoje a tal política "cidadã" continua seguindo fórmulas esgotadas e teorias políticas anacrônicas. Idealismos que pregam em vão como o "mundo ideal" deveria ser. Nesse sentido tanto o anarquista que acredita na paz mundial ou advogados de práticas de redução de dano ambiental ou marxistas gramscianos estão muito mais próximos daquela tradição fantapolítica inaugurada por Platão em sua Repúlica e continuada por Thomas Moore em A Utopia, do que os arremedos de filosofias que originalmente os inspiraram.
Se conclama o cidadão a agir, mas cegamente sem lhe dar os aparatos conceituais necessários para que entenda os funcionamentos reais da política dentro de seu país, ou medidas pálpáveis de como aquelas reivendicações podem realmente ser conquistadas. Faltou na década zero um movimento cultural que conseguisse conciliar o "fazer sua parte" com a Realpolitik do dia a dia.
Afinal de contas quantas pessoas hoje entendem verdadeiramente de política? Sabem hoje como funciona um partido? Quem são os políticos que elegeram? Como funcionam as leis eleitorais? O que são os sistemas de alianças e como eles influenciam os governos e oposições? Quantos jovens fora de famílias oligárquicas sonham com a carreira política ou em participar dessa mesmo que seja a nível municipal? Quais são as ONGs que possuem um nível de organização o suficiente para coordenar protestos sérios ou que saibam aproveitar criativamente dos espaços disponíveis para a comunicação? (Eu confesso-me um analfabeto político)
Mas pensar nesse tipo de coisas causa desconforto ao cidadão médio. É melhor exigir a plenos pulmões soluções radicais "fora do sistema" ou mágicas, instantanêas trazidas por algum tipo de divindade ou pensamento positivo. Ficar simplesmente bestializado perante os crimes ou a incompetência dos governantes, ou fazer protestos faraônicos só por fazer. A Realpolitik não é tão fascinante, tão consolatória, tão "cool" quanto a fantapolítica.
Se uma década vindoura tal movimento cultural conciliatório entre cidadania e pragmatismo político vier a exisitir (sou fantapoliticamente falando um pessimista histórico) só se pode esperar que para que ele realmente tenha êxito seja endogêno e extraescolar, visto que a alta carga ideológica aliada a um cenário de analfabetismo funcional presente na educação brasileira e a alegada eficiente educação dos países de primeiro mundo tem ambas até o presente momento falhado em nos agraciar com os pranteados "cidadãos conscientes".
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